terça-feira, 18 de maio de 2010

Cartunista baiano, Cedraz tem HQs publicadas no mercado nacional


Doris Miranda Redação CORREIO Fotos: Andrea Farias


O enorme mandacaru plantado no jardim da casa é o sinal. Mora ali, na movimentada via principal do Matatu, Antonio Cedraz, 65 anos, o mais sertanejo dos quadrinistas brasileiros e que, só agora, depois de quase três décadas de carreira, conseguiu levar as aventuras da simpática Turma do Xaxado para todo o país.


Desde a segunda metade de abril, esse nordestino, nascido em Miguel Calmon e criado em Jacobina, está vendo suas revistinhas serem publicadas no mercado nacional. A porta de entrada foi a parceria de sua própria editora com a editora paulista HQM, que publica também a Revista do Seninha.


Turma do Xaxado reflete o jeito nordestino de ser em histórias lúdicas “Estou muito feliz, apesar de só termos colocado 15 mil exemplares de cada título na rua. Por isso, minha gente, se não achar o Xaxado em uma banca, vá em outra”, convoca Cedraz, avisando que se os leitores quiserem conhecer melhor suas criações podem comprar os 26 livros da turma no site Ilha dos Livros.


“Tenho vendido bem. Outro dia, despachei um material para o Rio Grande do Sul”, comemora o artista, cuja obra também pode ser encontrada da Livraria LDM, na Piedade. Entre elas, o livrão 100 Tiras em Quadrinhos e a série best-seller Histórias Fantásticas.


A TURMINHA


Há quem diga que os desenhos de Cedraz são parecidos com os de Mauricio de Sousa. E são mesmo. O baiano não nega a influência óbvia, assim como a de John Stanley, um dos desenhistas de Luluzinha. “Era o que eu lia na pensão deminha mãe, lá em Jacobina.


Foi só depois que comecei a ver outras coisas nos jornais que os mascates traziam para enrolar seu produtos”, diz o colecionador dos livros do cowboy Tex. Com mais cuidado, percebe- se que as semelhanças se encerram no traço e na ideia da turminha mirim, porque a temática é muito diferente. Antonio Cedraz se aprofunda cada vez mais em assuntos regionais, que traduzem as nuances do sertão rural.


Cedraz criou também um site que funciona como livraria virtual http://www.ilhadelivros.com.br/


O personagem principal é Xaxado, menino despachado que vive alerta para preservar os costumes herdados do avô, um dos cangaceiros de Lampião. “Xaxado sou eu quando eramenino.Nasci e me criei na roça. Com ele, estou contando minha história”, afirma o autor, que cunhou sua cria há 13 anos.


Outros tipos gravitam em torno do menino: o preguiçoso Zé Pequeno, a intelectual Marieta, o arrogante Arturzinho, a ecologista Marinês e seu irmão, o músico Capiba. É essa galera que apronta todas em histórias objetivas, construídas com humor, claro, mas com um certo toque de crítica social. Cedraz fala da seca, da rotina mais lúdica da vida na roça e das figuras do folclore.


BANCÁRIO


Mitos do interior do Brasil, aliás, são uma paixão de Cedraz e renderam até livro temático: Lendas e Mistérios da Turma do Xaxado, que recebeu o Troféu HQ Mix de melhor álbum infantil do Brasil. Apenas um dos seis troféus da maior premiação nacional dos quadrinhos que recebeu. Não bastasse esses,Cedraz ainda foi agraciadocomo título de Mestre do Quadrinho Brasileiro pelo Troféu Ângelo Agostini. E pensar que isso só começou à vera mesmo depois que ele se aposentou da atividade de bancário, que exerceu durante toda a vida. “Tinha que sustentar minha família, né?”, justifica. Bom, aí, as tirinhas que começara a desenhar ainda na adolescência ganharam a atenção exclusiva do artista.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Xaxado quer ganhar o Sul Maravilha



09/05/2010 11:45:15
Xaxado quer ganhar o Sul Maravilha

O neto de bandoleiro que atuou no grupo de Lampião e outros personagens criados pelo baiano Cedraz saem pela HQ Mix Editora

Moacir Assunção - O Estado de S.Paulo

Em uma primeira olhada, o traço lembra muito o do desenhista Mauricio de Sousa, "pai" de Mônica, Cebolinha e Cascão, por causa da semelhança de personagens e cenários. Um olhar mais atento revela, no entanto, que se Mauricio é universal e urbano, o desenhista Antônio Luiz Ramos Cedraz, de 65 anos, baiano de Jacobina, mas morador de Salvador, tem verdadeira fixação por temas regionais nordestinos do meio rural. Como diria Leon Tolstoi, "se queres ser universal, fale de tua aldeia" parece ser o lema do artista.
O personagem principal de Cedraz - como é conhecido o desenhista, que não deixa de confessar a influência do traço de Mauricio, mas também gosta de citar os criadores de Luluzinha e Bolinha, Marge Buell e John Stanley - é um garoto de uma idade próxima à do Cebolinha, só que moreno e com um vistoso chapéu de couro com estrelas de David na cabeça, o Xaxado. O seu nome relembra a dança criada pelos cangaceiros. Ele é neto de um bandoleiro indeterminado, que teria atuado no grupo de Virgulino Ferreira, o Lampião. Realmente, o cangaceiro andou muito pela terra de Cedraz, onde se refugiou depois de ter sido derrotado no Rio Grande do Norte e em Pernambuco. Lá, ele conheceu Maria de Déa, a Maria Bonita.
Ao lado de Xaxado, pontificam outros personagens, como Zé Pequeno, um garoto com fama de preguiçoso; Marieta, uma pequena intelectual apaixonada por livros; Arturzinho, menino rico filho de fazendeiro; a ecologista Marinês e seu irmão Capiba, fã de música sertaneja de raiz. A turminha vive aprontando todas em uma pequena vila típica sertaneja. De vez em quando, entretanto, trocam de cenário e se aventuram na cidade grande e até em outros países.
As histórias têm, muitas vezes, um quê de crítica social. Em várias tiras, Arturzinho, o garoto rico e o único que tem sobrenome, o Albuquerque das famílias patriarcais nordestinas, demonstra preconceito de classe explícito e trata seus empregados como animais, sob críticas dos colegas. Em outras, o negro Capiba é confundido com empregado de um mercado ou garçom por causa da cor.
Ícones. Em outros momentos, aparecem os típicos políticos nordestinos, principalmente o deputado Gatonildo, em roupagem de coronéis do sertão, prontos para enganar o povo. Não faltam, entretanto, ícones do folclore nacional: o Saci, a mãe d"água, a mula-sem-cabeça e até o caipora, protetor das matas pouco conhecido no Sudeste, têm seu espaço garantido.
Para tentar, por sua vez, conquistar o seu espaço no Sul Maravilha, Cedraz lançou, no mês passado, uma revista com seus personagens pela HQ Mix Editora. "No futuro, quem sabe, faço um desenho animado com a turma. A maior dificuldade é que vivo em uma cidade com poucos recursos", lamenta.
E o que o próprio pensa da semelhança de seus personagens e suas histórias com os do paulista Mauricio? "Em termos físicos, sou mais confundido com o Ziraldo, por causa dos cabelos brancos, mas sofri, realmente, muita influência do traço do Mauricio de Sousa, mas também de Luluzinha e sua turma", ressalta.
Cedraz, que participou no ano passado de uma homenagem de colegas de profissão aos 50 anos de Mauricio quando fez uma tira na qual Cascão visitava - e adorava por razões óbvias - o Nordeste, entretanto, não o conhece pessoalmente. "Espero ter a oportunidade de falar com ele. Além de ser um ótimo desenhista, Mauricio é um grande empresário e domina o mercado brasileiro com seu trabalho", elogia.
Críticas o desenhista só faz ao mercado editorial brasileiro que, em sua visão, privilegia quase que exclusivamente temáticas estrangeiras, como o mangá. "Quem faz um quadrinho tipicamente nacional, ainda mais numa região pobre, como é o meu caso, enfrenta enormes dificuldades", diz.
Nascido em uma fazenda no município de Miguel Calmon (BA), Cedraz foi professor do nível fundamental e bancário. Seus primeiros desenhos foram feitos quando tinha somente 16 anos. Passou a se dedicar às tiras depois da aposentadoria no banco.
Os primeiros quadrinhos que leu, já em Jacobina, no norte da Bahia, a 330 quilômetros de Salvador, foram Tarzan, Super-Homem, Capitão Marvel, Fantasma e os personagens de Walt Disney. Desenhistas brasileiros da década de 1960 como o próprio Mauricio, Ziraldo, Nico Rosso, Sérgio Lima, Shimamoto e outros também integram suas influências.
Prêmios. Os trabalhos do artista foram publicados em tiras durante 12 anos no jornal A Tarde, de Salvador, e em livros e revistas que produz na própria editora, a Cedraz Estúdio. Apesar de ter ganhado vários prêmios, como o troféu de destaque no 2.º Encontro Nacional de Histórias em Quadrinhos, realizado em Araxá (MG), em 1989; quatro troféus HQ MIX (1999, 2001, 2002 e 2003), além do Prêmio Ângelo Agostini de "Mestre do Quadrinho Nacional", o desenhista permanece pouco conhecido fora do Nordeste. O seu trabalho pode ser apreciado no site www.xaxado.com.br.

Veículo: O Estado de S. Paulo Publicado em: 09/05/2010 - 11:45